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  • Gerenciamento de Risco e a Expansão da Balança Comercial Brasileira

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    31.1.2024

    Autor(a): CATARINA FORMIGLI
    Experiência na gestão de operações de Comércio Exterior e implementação de programas de Compliance Aduaneiro, atuando há 20 anos na indústria, consultoria e magistério. Possui MBA em Comércio Internacional (Unifacs), MBA em Supply Chain e Logística (FGV), MBA em Gestão Empresarial (FGV), certificação Lean Six Sigma e Auditora Interna pela Bureau Veritas. Ela ministra diversos treinamentos em Comex para a Aduaneiras.

    A nossa balança comercial registrou um saldo recorde em 2023, trazendo a esperança de que o Brasil dê continuidade às iniciativas de negócios globais e empreendedorismo internacional, mantendo as fronteiras abertas para o comércio e para as relações externas favoráveis. De acordo com o levantamento apresentado pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), a balança comercial brasileira registrou saldo recorde em 2023, atingindo US$ 98,8 bilhões. Um crescimento de 60,6% em relação a 2022, o desempenho anterior foi de US$ 61,5 bilhões. As exportações também se mostraram positivas alcançando US$ 339,7 bilhões no ano passado, uma melhora de 1,7% em relação a 2022, quando as exportações atingiram US$ 334,1 bilhões. Os números são os melhores resultados da série histórica iniciada em 1989. À medida que as cadeias de suprimentos mundiais se tornam um componente cada vez mais necessário às operações estratégicas da maioria das nossas empresas, o sucesso depende de encontrar um equilíbrio entre aumentar os resultados e gerenciar os riscos.

    Pois, se por um lado esse avanço nas nossas relações comerciais internacionais significa um progresso, traz consigo uma preocupação diretamente proporcional: os riscos. Os riscos são um acúmulo de fatores de diversas naturezas que impactam as operações. Por exemplo, na cadeia de abastecimento global, os movimentos de um embarque internacional criam riscos físicos para a carga em trânsito. Eles podem ser políticos como o terrorismo; de desastres naturais como ciclones, terremotos e tsunamis; contrabandos como tráfico internacional de armas e drogas; crimes de cibersegurança; e ainda situações de exposição financeira sérias com poucas oportunidades de recuperação. Essas ameaças físicas podem ser potencializadas por greves (de alguma empresa ou órgão público do qual depende o trajeto da logística da carga) e/ou uma má escolha de operadoras e prestadores de serviços quando estas são selecionadas provavelmente por profissionais que operam em outra vertical, fora do gerenciamento de risco. Mas, cumulativamente, todas essas decisões sobre a carga internacional em trânsito impactam nos seus riscos. Perda e dano da carga são consequências de fatores múltiplos ou fatores de colaboração que determinam a natureza da perda ou dano, a extensão e suas implicações.

    Mas os riscos não representam todo o desafio, eles revelam a exigência de preparo constante dos profissionais da empresa nesse sentido e ainda a necessidade de casar gestão de ameaças com baixo custo. Nas cadeias de suprimentos globais, a busca era, é e continuará a ser de custo mais baixo! E isso normalmente é alcançado em um nível "transacional". Cada decisão de reduzir o custo na cadeia de abastecimento terá um impacto sobre o risco. Utilizar uma transportadora barata reduz o custo e poderá aumentar o risco. Não fazer seguro reduz o custo e poderá aumenta o risco. Aplicar classificação de mercadoria incorreta (NCM), embora não intencionalmente, pode diminuir o custo e aumentar o risco. Conforme se expande a cadeia de suprimentos, maiores são as ameaças contidas nesse comércio global, exigindo melhor preparação técnica dos executivos, compreensão sobre os perigos da cadeia de suprimentos internacional e a identificação de soluções que agreguem segurança e economia para o benefício de suas empresas.

    Além da dificuldade de gerir proteção da carga com controle de gastos, as empresas de atividades internacionais ainda precisam se submeter aos órgãos reguladores da indústria e dos governos, bem como investidores, que começaram a examinar e/ou auditar as políticas e procedimentos de gestão de risco. No cenário da atualidade o reforço das preocupações com ameaças globais aumentou esse interesse das organizações pela gestão de risco. Dessa forma, a Receita Federal através do Programa OEA brasileiro também determina que o processo de gerenciamento de riscos deve ser aplicado às operações de importação e exportação brasileiras e é indispensável se precaver contra as ameaças inerentes à cadeia logística internacional, garantindo a segurança física da carga para demonstrar a confiabilidade das operações do seu negócio. Tudo isso exige forte conscientização e competência daqueles que operam na logística e no comércio internacional.

    Os profissionais que operam na logística internacional e na cadeia de abastecimento global precisam:

    1. Identificar e avaliar as ameaças. Reconhecer que os desafios ou riscos existem. Ou seja, ter ampla consciência das ameaças e das vulnerabilidades do cenário no qual a empresa está inserida.

    2. Compreender as implicações diretas, indiretas e auxiliares sobre como as ameaças podem causar perdas ou consequências para a organização.

    3. Obter o engajamento da alta administração, que aloca autoridade, recursos e despesas potenciais, permitindo a facilitação do tratamento do tema.

    4. Compreender a conectividade entre todas as verticais e interesses de quaisquer departamentos da empresa envolvidos na cadeia de suprimentos e na logística internacional.

    5. Desenvolver e implementar programa permanente de conscientização de ameaças à cadeia logística, visando à prevenção, à identificação e à ação. Cada indivíduo deve ser preparado para agir com prudência e com a devida diligência na definição e mitigação da exposição e risco. Isso cria uma mentalidade em todos os líderes e seus funcionários para considerar os riscos diretos e os impactos indiretos em todas as decisões que tomam em suas responsabilidades diárias.

    6. Desenvolver um esforço colaborativo para mitigar os desafios. A avaliação por todas as partes envolvidas e impactadas na cadeia de fornecimento e na logística internacional leva a um processo colaborativo de resolução de gerenciamento de risco que oferece uma oportunidade maior de sucesso.

    7. Utilizar métricas muito bem definidas, dados concretos e revisão anual ou em período anterior, caso necessário. Há sensibilidade, experiência e percepção de que ambos os métodos (quantitativo e qualitativo) funcionam em conjunto.


    Algumas percepções que merecem atenção são:

    1. Os riscos na cadeia de abastecimento global são minimizados quanto à sua relevância e impacto nas operações de negócios em geral.

    2. Os riscos na cadeia de abastecimento e na logística internacional são frequentemente repassados a terceiros, como fornecedores, transportadoras, prestadores de serviços e intermediários contratados. Muitas vezes, as proteções que deveriam estar em vigor não estão onde deveriam estar, deixando sérias deficiências, que normalmente não são identificadas até que ocorra uma perda.

    3. Os fornecedores estrangeiros criam um conjunto inteiramente único e extraordinário de riscos para as cadeias de abastecimento que muitas vezes são mal compreendidos e, portanto, faltam proteções. As culturas ocidentais são muito mais inclinadas a lidar com o risco de forma proativa, visto que outras culturas veem os riscos de forma muito mais insignificante, cabendo, novamente a sua empresa a responsabilidade de liderar a gestão de risco que envolve seus relacionamentos com tais fornecedores.

    Devemos entender a gestão eficaz dos riscos da cadeia logística internacional como uma vantagem competitiva. O gerenciamento proativo de riscos da logística internacional pode não apenas proteger seus embarques, mas também proporcionar e/ou impulsionar vantagens financeiras no fornecimento global corrente. Os profissionais atentos às questões de gerenciamento de riscos, que tomam iniciativas para preveni-los e combatê-los agregando valor ao seu trabalho, estão em uma posição muito mais privilegiada do que aqueles que apenas gerenciam os riscos da sua cadeia de suprimentos. Afinal, no mercado atual gerenciar adequadamente os riscos da logística internacional (tratá-los de forma abrangente, oportuna e responsável) é uma boa prática de classe mundial para qualquer empresa que busca altos níveis de crescimento, sustentabilidade, e maior valor para o seu acionista, minimizando as ameaças e aproveitando as oportunidades.

    Fonte Internet: Aduaneiras. 31/01/2024