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    7.3.2012

    Para tentar brecar a valorização do real, o governo atira nos especuladores cambiais - de novo

    Por Cristiano ZAIA

    Acombinação de juros altos no mercado interno e excesso de liquidez global voltou a provocar dores de cabeça para a indústria no País e a equipe econômica do governo federal. Desde o começo do ano, o dólar já caiu 8,88% em relação ao real, retornando ao patamar de R$ 1,70. É a maior queda entre sete países latino-americanos pesquisados pela consultoria Economática. (veja o quadro ao final da reportagem). A valorização da moeda brasileira é uma ducha de água fria para as empresas exportadoras. A fim de evitar a deterioração do cenário, o governo intensificou os leilões de compra de dólar nos mercados à vista e futuro.

    Na quinta-feira 1º de março, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou o aumento do prazo de incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos tomados pelas empresas no Exterior, de dois para três anos. Dessa forma, o governo espera desestimular as operações de curto prazo que ganham com a remuneração dos juros no País. "Não vamos assistir impassíveis a essa guerra cambial, temos que nos defender", afirmou Mantega. Segundo o ministro, novas medidas serão tomadas para evitar a valorização do real. Na mesma quinta-feira, a presidenta Dilma Rousseff criticou a política dos países desenvolvidos.

    "Eles compensam a rigidez fiscal com uma política absolutamente inconsequente sobre os mercados mundiais." Dilma lembrou que já foram despejados US$ 4,7 trilhões por países como Estados Unidos e Japão, entre os emergentes. "É um tsunami monetário preocupante", disse a presidenta, durante um encontro com empresários, no Palácio do Planalto. Para a indústria brasileira, real forte é sinônimo de menor poder de fogo para exportar. "Não consigo enxergar o dólar valendo mais que R$ 1,70 em 2012", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Uma sondagem da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece) com as 30 maiores companhias exportadoras do País mostra que a remuneração gerada pelo comércio internacional caiu 5% no primeiro bimestre deste ano em relação ao fim do ano passado.

    "O câmbio a R$ 1,70 prejudica as exportações, principalmente de manufaturados", afirma Ivan Ramalho, o presidente da Abece. Um real mais valorizado, em tese, garante maior poder de compra para os importadores. Mas, na prática, isso não funciona em todas as relações comerciais. O dono da importadora paulista de vinhos Expand, Otávio Piva Júnior, lembra que, assim como no Brasil, o dólar está fraco no Chile e na Argentina, onde estão seus principais fornecedores. Com isso, o preço em dólar também está subindo entre 15% a 20%. "Vou ter de aumentar em 9% o preço do vinho, a partir de março", afirma Piva Júnior.

    Fonte: Istoé Dinheiro, 07/03/12