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  • O comércio Brasil-China

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    22.3.2012

    O comércio exterior brasileiro encerrou o ano de 2011 com excelentes resultados. Vários recordes foram quebrados e em todos o intercâmbio com a China teve papel decisivo. As exportações para a China alcançaram US$ 44 bilhões (mais 44%), enquanto as importações somaram US$ 32 bilhões (mais 28%), resultando em um superávit favorável ao Brasil de US$ 12 bilhões.

    Tais números mostram que a China está consolidada como uma das principais parceiras comerciais do Brasil, enquanto o Brasil é atualmente o seu principal parceiro na América do Sul. Além disso, a China já se destaca como um grande investidor em diferentes setores da economia brasileira.

    Ao contrário do que é sempre repetido pelos críticos do comércio Brasil-China, no nosso intercâmbio não prevalecem os chamados bens de consumo. Pelo contrário, nas importações sobressaem insumos industriais adquiridos pela indústria brasileira e utilizados na produção doméstica de diferentes produtos manufaturados. Nas exportações constituem maioria o minério de ferro, a soja e o petróleo, igualmente empregados no processo produtivo, ou seja, nos dois casos a destinação é o processamento industrial, o que garante um fluxo comercial consistente.

    Com a utilização de variada gama de insumos chineses, muitas indústrias produzem - aqui no Brasil, gerando emprego para trabalhadores brasileiros - bens finais de alto conteúdo tecnológico. Na importação também se destacam máquinas, equipamentos e aparelhos igualmente utilizados na produção industrial.

    A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC divulga regularmente a lista dos 100 principais produtos que o Brasil importa da China, assim como de outros países. Essa lista demonstra claramente que prevalecem peças, componentes, aparelhos, instrumentos, equipamentos de produção, ou seja, produtos que complementam a produção brasileira - não substituem a produção brasileira.

    Casos específicos de setores industriais brasileiros que se queixam de importações chinesas,  abrangendo reduzida parcela de produtos, têm sido adequadamente tratados pelos órgãos governamentais, em especial pelo Departamento de Defesa Comercial - DECOM, com base na legislação específica e em acordos internacionais, sem excessos que possam causar maiores constrangimentos e prejudicar as crescentes e salutares relações comerciais entre os países.

    Até agora o governo brasileiro tem resistido a muitas das investidas para a adoção de medidas radicais de contenção de importações da China, como a salvaguarda transitória ou acusações de subsídios, que têm potencial para prejudicar consideravelmente este que é hoje o nosso mais intenso relacionamento comercial.

    A adoção de novas medidas de proteção certamente não é o caminho para fortalecer nossa indústria, inclusive porque na prática só cria mais burocracia e encarece o processamento das importações, sem contudo evitá-las. Os principais prejudicados acabam sendo setores da própria indústria que necessitam importar para produzir. Neste ponto é oportuno lembrar que existe o canal da negociação. Muitas vezes as autoridades chinesas deram claras demonstrações de que concordam em negociar com o Brasil e buscar soluções para problemas específicos. O acordo de restrição voluntária das exportações de têxteis e confecções, concluído em 9 de fevereiro de 2006, e que vigorou por 3 anos, é um bom exemplo disso.  O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) pode contribuir de forma decisiva nesse processo, já que acordos negociados por entidades governamentais só são bem sucedidos com o acompanhamento e o apoio de representantes do setor privado.

    Um ponto que de fato deve merecer atenção especial é a ainda baixa participação de produtos manufaturados brasileiros em nossas exportações para a China. A participação do minério de ferro, soja e petróleo continua amplamente majoritária.

    A China é e continuará sendo uma das maiores importadoras mundiais. Suas importações anuais já superam US$ 1 trilhão e não se limitam a compras de produtos básicos. Trata-se de excelente mercado consumidor de produtos manufaturados e é grande o número de países que destinam a China parcela considerável de sua produção industrial.

    O Brasil tem uma indústria sólida e competitiva, que reúne condições para ampliar suas operações na China. Existe apoio da Apex, que, na última visita do Presidente Lula ao país, inaugurou moderno escritório destinado ao apoio de exportadores brasileiros em Pequim. As tradings já participam de forma expressiva do comércio com a China e também podem contribuir no processo de diversificação da pauta.

    Não há dúvida que a China permanecerá registrando crescimento neste ano. A única dúvida que existe é quanto ao tamanho do crescimento, se igual ou superior a 8%.  Devido à expansão da economia, a importação chinesa vai crescer e contribuir  para que o Brasil eleve ainda mais as exportações. Esse cenário ensejará maiores oportunidades para diversificação da pauta e crescimento das vendas de produtos industrializados e alimentícios.

    Para os que não acreditam que isso seja possível, destaco agora alguns produtos brasileiros que em 2011 aumentaram bastante suas vendas para a China, acima do crescimento médio de 44%: ferro fundido (+542%), óleo de amendoim (+435%), copolímeros de propileno (+404%), blocos para motores (+227%), polipropileno (+197%), café (+145%), açúcar (+139%), joalheria de ouro (111%), frango congelado (+99%), carne bovina (+97%), glicerol (+92%), aviões (+88%), peças para tratores e automóveis (69%) e suco de laranja (+57%).

    As estatísticas oficiais também mostram vários produtos cuja exportação teve início em 2011, comprovando a abertura do mercado chinês: máquinas para fabricar papel (US$ 30 milhões), ligas de níquel (US$ 15 milhões), dicloroetano (US$ 11 milhões), propeno (US$ 7 milhões), billets de ferro/aço (US$ 7 milhões), ilmenita (US$ 6 milhões) e trigo (US$ 5 milhões).

    O desempenho de muitos desses produtos brasileiros nas exportações para a China demonstra o grande potencial daquele mercado. Caso um número ainda maior de empresas invista em promoção e participe de missões comerciais, especialmente agora que a China está ampliando muito a população urbana, mais identificada com o consumo, os nossos produtos industrializados também poderão ter uma participação expressiva neste que é hoje um dos maiores mercados consumidores mundiais.

    Ivan Ramalho é Presidente da Abece - Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior. Foi Secretário Executivo e Secretário de Comércio Exterior do MDIC.