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  • Entrevista concedida pelo Presidente da ABECE a Rádio CBN, Carlos Alberto Sardenderg, em 03/10/11.

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    11.11.2011Abaixo, o link para que todos possam ouvir a entrevista.

    http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-brasil/2011/10/03/ANO-DEVE-FECHAR-COM-RECORDE-NAS-EXPORTACOES.htm
    Para facilitar, segue abaixo transcrição da entrevista concedida pelo Ivan para a Rádio CBN: Ivan Ramalho, entrevista concedida a Carlos Alberto Sardenberg no CBN Brasil, veiculado por todas as emissoras da Rede CBN (das organizações Globo) em 18 estados no dia 03 de outubro de 2011, ao vivo, entre 13h e 13h15, também disponibilizada no site com destaque no link: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/cbn-brasil/2011/10/03/ANO-DEVE-FECHAR-COM-RECORDE-NAS-EXPORTACOES.htm
    CARLOS ALBERTO SARDENBERG: Estamos aqui com Ivan Ramalho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior. E para introduzir o nosso tema, hoje saiu informação sobre comercio externo brasileiro em setembro, com superávit acumulado de 23 bilhões de dólares, maior do que no ano passado, maior do que as previsões. O que está acontecendo, Ivan Ramalho?
    IVAN RAMALHO: Temos que estar bastante satisfeitos, não só porque o superávit é maior, mas porque as exportações estão crescendo bem. O crescimento de 30% nas exportações é muito bom, principalmente se considerarmos que num passado muito recente tínhamos uma defasagem de câmbio muito grande, que tirava a competitividade dos nossos produtos. Está muito bom o aumento de 30% nas exportações. E as importações estão crescendo em torno de 25%, é natural, faz parte da relação muito grande que existe hoje entre importação e produção, inclusive importação destinada à própria exportação. Acho que o resultado de 2011 deverá fechar com grandes recordes.
    CAS: Crescer 30% ao ano é crescimento chinês...
    IR: É um ótimo resultado. Pela primeira vez vamos ter uma corrente de comércio geral muito próxima de meio trilhão de dólares na soma de exportações e importações. Resultado excepcional.
    CAS: Ivan Ramalho, quando as exportações sobem temos dois fatores, sendo o aumento de produto e o aumento de preço. Ou seja, dá para se comprar a mesma coisa, mas com preços melhores. E com preços maiores, inflação sobe também. Qual tem sido o fator principal na exportação brasileira?
    IR: De fato, tivemos na exportação brasileira alguns aumentos de preços,. Commodities aumentaram um pouco. Commodiites são assim, uma hora sobe, outra cai. Mas as exportações de manufaturados cresceram, se for ver números oficiais. Olho sempre para o ano todo. Manufaturado no ano cresceram em torno de 20%. Não foi só em commodities. Acho que essa tendência, apesar da crise, de uma provável retração mais acentuada em alguns países até o final do ano, eu acho que o quadro do comércio exterior brasileiro não muda mais nesse ano. Crescimento das exportações continua, não só commodities. Manufaturado também cresceu 20% neste ano.
    CAS: Só para detalhar um pouco mais, nos últimos tempos, temos visto todos reduzindo previsões de crescimento para produção mundial, em alguns países. Essa redução afeta exportação?
    IR: Acredito que neste ano não muda mais, mas nos próximos dois ou três anos, de fato, se houver uma retração muito acentuada, podemos prever sim que seremos afetados. Como aconteceu em 2009. Tivemos a crise em 2008, se olhar comportamento da exportação de 2009 verá que temos uma queda. E a queda será mais acentuada em produtos mais industrializados. De modo geral, quando há retração de demanda muito grande em países onde há consumo de famílias mais especifica, nos EUA e Europa, por exemplo, é mais afetado. Isso aconteceu em 2009. Se acontecer agora será mais atingido em produtos industrializados. Por isso é bom sermos exportadores de commodities. Temos uma pauta diversificada que ajuda o Brasil. Muitas vezes as pessoas criticam isso, o fato de sermos grandes exportadores de commodities, das commodities terem uma participação muito grande, mas isso não é ruim, pelo contrário. É bom. Metade é indústria e metade é indústria básica.
    CAS: Até porque commodiites hoje envolvem bastante tecnologia agregada.
    IR: E isso influencia um pouco a importação. Hoje no Brasil há preocupação muito grande em relação ao aumento da importação, inclusive da China. Não vejo dessa forma. Hoje a importação brasileira está vinculada à produção. Cerca de 83% de tudo o que o Brasil importa hoje está vinculada à produção. Só 17% é que é bem de consumo. E nos 17% estão incluídos principalmente os automóveis que o Brasil importa de Argentina e México. Mostra que importação brasileira é de muito boa qualidade e necessária. Ela é, na maioria das vezes, complementar à produção, e não concorrente.
    CAS: O senhor não acredita na tese da desindustrialização?
    IR: Não. Se você olhar os números sendo divulgados hoje, vai ver que 80% é formado por componentes, insumos, peças, matérias-primas, máquinas, equipamentos... tudo destinado à produção industrial. Só 17% é de bem de consumo. O Brasil é uma das dez maiores economias do mundo e menos de 20% das importações são de bens de consumo. Realmente não concordo com a tese da desindustrialização e nem mesmo com preocupação tão grande de setores industriais de fechar a economia. A economia brasileira já é bastante fechada. Pelo contrário, quanto mais pudermos importar, ainda mais vinculada ao complemento da produção, é bastante positiva.
    CAS: O que você achou da medida recente do governo de aumentar o IPI de carros importados de montadoras que não tem 65% de conteúdo nacional?
    IR: Eu vejo como uma preocupação muito grande de trazer mais fábricas e aumentar a produção de veículos aqui no Brasil. O Brasil tem condições. Mas as próprias fábricas chinesas e coreanas, porque do México, Argentina e Uruguai nada mudou, porque tem acordos que prevalecem. Com relação à China e a Coreia, as montadoras destes países já estão investindo e construindo fábricas no Brasil. Acho que pouco vai mudar em relação a isso. Decisão de instalar fábrica no Brasil já estava tomada. O que pode acontecer é que essas fábricas, em um primeiro momento, não consigam cumprir uma nacionalização tão alta. Vejo essa posição da nacionalização, que eu mesmo no passado acompanhei muitas vezes, inclusive o governo exige isso, mas é uma faca de dois gumes. Você não pode exigir índice muito alto, faz com que produtor brasileiro aplique aqui um componente de valor muito mais alto que o seu competidor externo. Ao invés de dar mais competitividade pode estar tirando. O caminho mais adequado é reduzir a carga tributária e dar competitividade natural ao produto, por ter produto final estimulado a buscar nacionalização maior por ter preço competitivo e não por ser obrigado a atingir determinado índice.
    CAS: Tem que reduzir o custo Brasil, e não aumentar o custo mundo.
    Exato. Se o custo Brasil melhora, a nacionalização maior tende a vir naturalmente.