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    6.5.2013

    Balança comercial fica negativa em três dos quatro primeiros meses do ano e acumula déficit recorde de US$ 6 bilhões até abril. Passou da hora de o governo estimular a máquina de exportações do País

    Por Paulo JUSTUS

    As políticas de incentivo ao consumo e a ênfase no mercado interno mantiveram a economia aquecida ao longo dos últimos anos, mas tiveram o efeito colateral de deteriorar os bons números da balança comercial brasileira, com o aumento da importação de combustíveis e de bens de consumo. De janeiro a abril, o País acumulou um déficit recorde de US$ 6,15 bilhões, divulgou o Ministério do Desenvolvimento na quinta-feira 2. Três dos quatro meses do ano apresentaram saldo negativo, algo que não se via desde 2000. Nos últimos anos, o Brasil registrou déficit na balança de manufaturados. As importações superaram as exportações de produtos acabados em R$ 94 bilhões em 2012.

    No entanto, o bom resultado nos embarques de commodities - o superávit chegou a R$ 84 bilhões no ano passado - compensava o aumento das importações de manufaturados. Agora, com o crescimento menor da China e a crise na Europa, o preço desses produtos já não sobe na mesma intensidade, e a exportação dos básicos caiu 3,7% no primeiro quadrimestre. Com isso, o modelo adotado nos últimos anos revelou sua precariedade. "O problema maior é a falta de competitividade brasileira, por carência de investimento e de infraestrutura", diz Lilia Miranda, diretora-executiva da Associação Brasileira das Empresas de Comércio Exterior (Abece).

    Passou da hora, portanto, de o governo estimular mais as exportações das empresas do País, desatando o nó da infraestrutura nos portos. A situação deve melhorar um pouco nos próximos meses, mas todas as previsões apontam para superávits bem menores do que nos anos anteriores. No ano passado, o saldo foi positivo em US$ 19,4 bilhões e, em 2011, foi de US$ 29 bilhões. Agora, a projeção do BC é de superávit de US$ 15 bilhões. A piora da balança comercial se deve principalmente a dois fatores, agravados neste ano: o aumento das importações de combustíveis e a queda na exportação de manufaturados.

    Com a diminuição da produção nacional de petróleo e o aumento da demanda interna de gasolina e diesel, a Petrobras tem que trazer o produto de fora. Nos primeiros quatro meses deste ano, o País importou US$ 14,4 bilhões em petróleo e derivados, 26,9% a mais que no mesmo período de 2012. O desempenho dos manufaturados, cujas exportações caíram 4,8% nos quatro primeiros meses do ano, também contribui para o resultado. A Embraer, a décima maior exportadora do País e a primeira em manufaturados, registrou uma queda de 13,8% em suas vendas externas, que atingiram US$ 715,4 milhões no trimestre.

    A indústria sofreu com a retração dos investimentos no ano passado, que acabou afetando a competitividade do País no cenário internacional. Além disso, o Brasil sofre com a queda nas exportações para a Argentina, maior comprador dos industrializados nacionais. "Como a Argentina está prestes a ter uma crise cambial e será obrigada a depreciar a moeda, teremos mais dificuldade de exportar para lá", afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, que prevê um superávit comercial de apenas US$ 4,7 bilhões neste ano. Como nos anos anteriores, a salvação deverá vir da lavoura. De acordo com Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o aumento das exportações nos próximos meses vai fazer a balança virar.

    "O embarque de grãos começará a ser sentido agora, com um pico em agosto", diz Branco. A agricultura espera colher um recorde de 185 milhões de toneladas de grãos neste ano, 11,3% a mais que em 2012. A corrosão do saldo comercial reduz o volume de dólares no País para financiar as transações com o resto do mundo, prejudicando também a balança de pagamentos, que deve ter um déficit de US$ 2 bilhões. "A necessidade de financiamento adicional é modesta", disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, no início de abril. Isso, se tudo mudar, para melhor, até o fim do ano.

    Fonte Internet:  Isto É Dinheiro, 03/05/13